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Texto Sobre a Felicidade

O Sénior e a felicidade, são compatíveis?

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O Simples facto de o leitor abrir o presente artigo para saber se a resposta é sim ou não, irá certamente condicionar a resposta para o próprio. Pois um dos determinantes para se envelhecer de forma positiva e feliz tem a ver com o significado que damos ao ser idoso, ou seja a nossa perceção sobre a possibilidade de sermos felizes quando formos mais velhos. Se a perceção está carregada de conotações/preconceitos negativos, quando lá chegarmos não nos vamos encarar como seres válidos e úteis e não vamos perceber a importância que realmente temos para a sociedade e para com as pessoas que nos são mais próximas. Estes preconceitos sobre o envelhecimento estão enraizados na nossa sociedade atual, a qual valoriza o sangue jovem e cheio de energia para trabalhar em detrimento da sabedoria válida que a pessoa detém que lhe permite ter uma diferente perspetiva sobre o trabalho.

A forma como encaramos a transição da vida laboral para a reforma, marca muito a nossa felicidade após a reforma. Muitos de nós nos identificamos com o nosso trabalho, ao ponto de o nosso trabalho passar a ser a nossa característica principal. Eu sou a Diana a Psicóloga, conheço a Maria Médica, a Antonieta Modistas ou Joaquim Mecânico. Quando o papel que desempenhamos profissionalmente se perde, porque nos reformamos, leva consigo parte da nossa identidade e do sentimento de utilidade. Como se na reforma deixássemos de ser úteis. Há também inversão de papeis na família, com o aumento da dependência física e cognitiva que o envelhecimento traz. A Diana Mãe, que sempre ajudou a filha, se sacrificou trabalhando horas até tarde e a ter dois empregos para pagar o colégio, pode não querer aceitar que agora seja a vez da filha a sacrificar-se para levar a mãe ao médico ou até mesmo a limpar-lhe a casa. Mais uma vez, é uma questão de perceção, porque a Diana está tão focada na perda do papel de matriarca, que se esquece que tudo o que a filha lhe faz é para retribuir de alguma forma o que a Diana fez por ela. É por gratidão.

Lá está, a perceção diz tudo, é tudo muito subjetivo. Daí que quando se fala em felicidade, fala-se em bem-estar subjetivo ou quando se mede a felicidade ao longo da vida se mede a satisfação (também subjetiva) com a vida.

Sim, a felicidade é subjetiva, mas objetivamente os estudos indicam que há uma tendência para sermos mais felizes após a reforma. Felizes numa perspetiva hedónica (associada aos pequenos e grandes prazeres da vida, aqueles momentos de pura felicidade). Se pensar bem, na “corrida” dos 20/30/40anos tendemos a fazer “malabarismo” com a vida, com os eventos e a dividir o dia em períodos de tempo que não são exequíveis e acabamos por nos sacrificar (ficamos mais cansados e sem tempo para fazer o que nos dá prazer). Isto tendencialmente não acontece após a reforma, quando os filhos estão criados, quando aprendemos a fazer as coisas com outro tempo e a ter tempo para ter prazer.

Outros estudos, que recorrem ao modelo de bem-estar da Carroll Riff, modelo utilizado na base de toda a nossa intervenção na Ativo em Casa, indicam que com a entrada na reforma, há uma tendência para se diminuir o propósito de vida e o desenvolvimento pessoal, importantes para a felicidade eudemónica (associada às nossas conquistas de vida) e para o Significado de Vida (capacidade para vivermos de acordo com a nossa essência, uma vida com significado é uma vida mais feliz). Efetivamente estes estudos indicam que tal acontece em média a partir dos 60 anos. É importante assim ir contra essa tendência, descobrindo o que dá vida aos anos das pessoas, descobrindo um projeto de continuidade nesta igualmente importante fase do ciclo de vida. E este é o trabalho que fazemos na Ativo em Casa, é uma das premissas base de intervenção. Até porque a felicidade eudemónica e o propósito e significado de vida acarretam maior peso emocional, sendo mais duradores e tendo um impacte mais positivo nas nossas vidas.

Resumindo, em resposta à questão inicial: sim, o sénior e a felicidade são compatíveis, mas depende largamente da forma como encaramos/vivemos a velhice.

Vamos ser todos felizes? Se sentir que este texto de alguma forma o tocou, podemos sempre conversar.

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