O fenómeno de envelhecimento da população tem vindo a tornar-se cada vez mais impactante nas últimas décadas: dados revelam que um em cada quatro cidadãos portugueses tem mais de 65 anos, o que faz de Portugal o terceiro país mais envelhecido do mundo (1). Paralelamente, esta mesma população tem vindo a assistir a um aumento da prevalência de doenças crónicas. Estas duas problemáticas devem-se, sobretudo, por um lado, à atual existência de melhores condições de vida, a avanços significativos nas áreas da medicina e da ciência (2), e à maior acessibilidade a serviços de saúde (3) e, por outro, à presença de fatores de risco comportamentais (tais como alimentação não-saudável, tabagismo e reduzida atividade física).
Ora, ao nos depararmos com uma população em envelhecimento, e com as problemáticas que surgem associadas à mesma, torna-se ainda mais urgente perceber quais os desafios associados a esta etapa da vida e de que forma estes podem ser geridos e superados. Estes desafios prendem-se com diversas mudanças, designadamente biológicas, como a deterioração gradual ao nível celular e molecular que, por sua vez, levará ao aumento da debilidade estrutural do indivíduo, assim como à maior probabilidade de contração de doenças (4). Deste modo, existe uma maior probabilidade e prevalência dos níveis de dependência funcional destes indivíduos e, portanto, são uma população alvo de cuidados mais comum (5) e, por isso, de grande relevância. A área da gerontologia tem procurado saber mais acerca das melhores práticas que possam ajudar esta população mais vulnerável a ter um processo de envelhecimento mais ativo e positivo. Umas das formas de terapia direcionadas a esta população centra-se na vertente musical.
A música representa uma forma de expressão e comunicação universal que, apesar da incerteza existente quanto ao seu aparecimento, “acompanhou os hominídeos desde as suas origens mais remotas” (6). Esta forma de arte é transversal a todas idades e culturas de todo o mundo, estando presente no nosso quotidiano nas mais variadas formas e em diversos contextos (7). Mais especificamente, na nossa realidade ocidental contemporânea sabemos que a música desempenha, entre outras, uma função social, fazendo-se ouvir em, por exemplo, casamentos, funerais ou discotecas (6).
No que concerne à área da saúde, a música tem igualmente um papel de destaque há já algum tempo, tendo sido primordialmente utilizada em contexto de internamento, evidenciando benefícios na redução de stress (8) e de níveis de dor dos pacientes (9).
Utilizada geralmente como terapia complementar, a música desempenha um papel importante na vida da população idosa, demonstrando contribuir de forma significativa para a sua qualidade de vida (10) e promovendo, assim, um envelhecimento mais saudável. Nomeadamente, estudos têm demonstrado que a exposição à música conduz a melhorias na fluência verbal dos idosos, assim como à redução dos seus níveis de ansiedade e depressão (11). Adicionalmente, devido ao papel social desta forma de arte, a participação ativa dos idosos em atividades com música permite ainda uma maior sensação de pertença, estimulando-se assim o bem-estar destes indivíduos (12). Neste contexto, a música pode chegar aos idosos de diferentes formas. A título de exemplo, os indivíduos podem ser convidados a: ouvir música (executada ao vivo, ou gravada – através de aparelhos multimédia); aprender instrumentos musicais; cantar (acompanhando a música através de letras fornecidas); realizar exercícios de relaxamento; dançar ao ritmo da música ouvida (13). Assim, existe uma panóplia de atividades que devem ser adaptadas às capacidades e condições dos utentes, para que possam participar de forma ativa e produtiva.
Desta forma, a música chega à Ativo em Casa, convergindo com a visão de “potenciar o envelhecimento positivo e saudável” dos seus clientes. Através de sessões grupais e individuais, esta terapia surge como forma de, proporcionando um momento positivo de convívio e reminiscência, promover o bem-estar dos idosos que participam ativamente nas sessões, as mesmas adaptadas às suas preferências e necessidades.
Autor: Rita Jorge
Bibliografia:
2. Torres, Á., Blanco, V., Vázquez, F. L., Díaz, O., Otero, P., & Hermida, E. (2015). Prevalence of major depressive episodes in non-professional caregivers. Psychiatry Research, 226(1), 333–339. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2014.12.066
3. Lynch, K. A., Livi-Bacci, M., & Ipsen, C. (1994). A Concise History of World Population. In The American Historical Review (Vol. 99, Issue 2).
https://doi.org/10.2307/2167301
4. Organização Mundial da Saúde. (2015). Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde. https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/186468/WHO_FWC_ALC_15.01_por.p df;jsessionid=B2A9D7C027D79EB8F9914C1FBAD521EF?sequence=6
5. Schulz, R., Beach, S. R., Czaja, S. J., Martire, L. M., & Monin, J. K. (2020). Family caregiving for older adults. Annual Review of Psychology, 71, 635–659.
https://doi.org/10.1146/annurev-psych-010419-050754
6. Maojo, V. (2018). Cérebro e Música – Entre a Neurociência, a Tecnologia e a Arte (Atlântico Press). Bonalletra Alcompas, S. L.
7. Mehr, A., Singh, M., Knox, D., Ketter, D. M., Pickens-Jones, D., Atwood, S., et al. (2019). Universality and diversity in human song. Science 366:eaax0868. doi:10.1126/science.aax0868
8. De Witte, M., Da Silva Pinho, A., Stams, G. J., Moonen, X., Bos, A. E. R., & Van Hooren, S. (2020). Music therapy for stress reduction: a systematic review and meta-analysis. Health Psychology Review, 16(1), 134–159. https://doi.org/10.1080/17437199.2020.1846580
9. Davis, W.B.; Gfeller, K.E.; Thaut, M. An Introduction to Music Therapy: Theory and Practice; American Music Therapy Association: Silver Spring, MD, USA, 2008.
10. González-Ojea, M., Domínguez-Lloria, S., & Juste, M. (2022). Can music therapy improve the quality of life of institutionalized elderly people? Healthcare, 10(2), 310.
https://doi.org/10.3390/healthcare10020310
11. Lam, H., Li, W., Laher, I., & Wong, R. (2020). Effects of Music Therapy on Patients with Dementia—A Systematic Review. Geriatrics, 5(4), 62.
https://doi.org/10.3390/geriatrics5040062
12. Sheppard, A., & Broughton, M. C. (2020). Promoting wellbeing and health through active participation in music and dance: a systematic review. International Journal of Qualitative Studies on Health and Well-being, 15(1), 1732526. https://doi.org/10.1080/17482631.2020.1732526
13. Bruscia, K. Defining Music