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Cuidados Primários de Saúde nos adultos mais velhos

Cuidados Primários de Saúde nos adultos mais velhos

Foi no dia 23 de Fevereiro que a Ativo em Casa, em Parceria com a Clinica de Fisioterapia de Lisboa, deu arranque às sessões online “Em Casa é que se Está Bem”.

O mote de partida foi falar nos acidentes em casa, tema que muito preocupa os cuidadores e que foi abordado do ponto de vista Psicológico e Cognitivo (pela psicóloga da Ativo em Casa Diana Tavares) e do Ponto de vista Físico (Pela fisioterapeuta da Clínica de Fisioterapia de Lisboa, Gabriela Fonseca).

Veja a conversa aqui:

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Pensar em segurança, é assumir o risco, o risco é a consciencialização de uma situação problemática que pode vir a acontecer, mas não é certo que aconteça. Significa assim que o risco é uma experiência subjetiva, que tem impacte na forma como as pessoas lidam com o próprio risco, diferindo assim de pessoa para pessoa (1). Uma reação exacerbada ao risco, sem que o adulto mais velho compreenda o porquê do aumento das estratégias de segurança, pode despoletar ansiedade ou outras emoções negativas. Na Ativo em Casa acreditamos por isso que antes de se pensar em segurança, com estratégias de prevenção de risco, deve-se pensar no bem-estar do adulto mais velho e nos seus limites de tolerância/aceitação das novas estratégias a aplicar.

Os cuidadores informais de adultos mais velhos com demência (geralmente os filhos, em Portugal estudos indicam que o filho/filha mais velho/a, mas podem ser outros familiares ou pessoas de referência do adulto mais velho) (2) passam em média 10 horas ao serviço deste, e dessas 10 horas a maior parte do tempo é tomada em atividades de vigilância ou de supervisão de outras atividades da pessoa mais velha (1). Este cuidado leva ao burnout do cuidador e consequentemente ao aumento de intolerância para com a pessoa a ser cuidada, fragilizando a relação entre cuidador e o adulto mais velho.

Enumeramos a seguir as preocupações mais habituais dos cuidadores de adultos com demência (1, 3), dividindo-as em três tipos de medos:

  • Medos associados à dificuldade de memória e orientação do adulto mais velho
  • – Medo de ocorrer uma adversidade associada à desorientação espacial e temporal da pessoa com demência, por exemplo o Adulto mais velho sair de casa a meio da noite enquanto o cuidador está a dormir, e/ou medo em geral da pessoa se perder na rua, e ficar desorientada;
    – Medo de acidentes originados pela falta de memória, como incendiar a casa quando cozinha, ou deixar velas acesas e cigarros esquecidos…;
    – Medo de haver um mau manuseio da medicação, com esquecimento de tomas ou toma de medicação dobrada;

  • Medos associados à perda de autonomia geral
  • – Preocupação com a perda de habilidades nas atividades de vida diárias, como conduzir o carro, gerir agendas e consultas ou manuseio de dinheiro;
    – Perda de hábitos de higiene pessoal que podem levar a doenças (dentes por exemplo) e de outros hábitos de autocuidado como perda do discernimento e escolha inapropriada da roupa quando sai à rua, podendo por exemplo vestir roupa fresca nas estações frias;
    – Medo de uma queda e suas implicações na recuperação;

  • Medo associado ao Isolamento e suas consequências
  • – Preocupação que o adulto seja abusado/enganado por uma terceira pessoa;
    – Receio que o adulto venha a sentir ansiedade, solidão e tenha uma depressão;

Há também uma outra fonte de desgaste emocional relatada tanto por cuidadores formais como informais: a dualidade entre o sentirem-se preocupados pelos riscos que o Adulto mais velho está sujeitos, e o perceber que estão a ir contra a vontade da pessoa e a tirar-lhe autonomia e direitos. É por isso importante pesar se as medidas de segurança tomadas pelos cuidadores se aplicam ou não e se estão a pôr em causa a liberdade da pessoa mais velha (3).

O uso de barreiras de contenção do adulto mais velho, como o uso de grades na cama ou de cadeados na porta da rua ou até mesmo nos armários de casa, para barrar o acesso aos mesmos, deve também ser bem ponderado antes de ser aplicado. Esta estratégia pode levar as pessoas a sentirem-se presas em casa, aumentando a ansiedade. Há relatos de cuidadores que apanharam a pessoa cuidada a querer saltar pela janela porque se sentiam presos e queriam sair da casa fechada a cadeado, há também relatos de pessoas que tiveram fraturas associadas ao trepar as grades da cama (1).

Se conter é um fator gerador de ansiedade, a resposta do adulto mais velho será no sentido de sair da situação de contenção. O Conter pode também trazer sentimentos de depressão para as pessoas com demência (3).

Apresenta-se a seguir um conjunto de estratégias que podem ajudar a manter os adultos mais velhos seguros e consequentemente os cuidadores mais tranquilos porque ajudam a maximizar a autonomia quotidiana do adulto mais velho e a perceção de controlo no dia-a-dia, para desta forma estar-se a estimular o bem-estar (4).

1) Comunicar com o adulto mais velho sempre com calma e assertividade, ir ao encontro do que ele está a sentir e valorizar o sentimento e as causas do sentimento (1);

2) Quando necessário haver uma pessoa de referência para a gestão das finanças, esta pessoa deve ser o mais transparente possível e mostrar sempre onde gasta o dinheiro e envolver o outro na tomada de decisão para os gastos, para que a pessoa não perca a total perceção de controlo da sua vida e não sinta que os cuidadores lhe estão a “roubar e controlar” (3). Neste ponto reforça-se a importância de tranquilizar o adulto mais velho no que toca a gastos, demonstrando que este tem dinheiro para fazer face às despesas.

3) Na contratação de um cuidador informal, este deve manter-se sempre o mesmo ou haver o mínimo de rotatividade possível, para dar segurança e diminuir a ansiedade do Adulto mais velho. Acredita-se também que um cuidador informal integrado numa casa acaba por conhecer melhor as rotinas e hábitos da pessoa, incluindo os hábitos de risco, prevenindo-os (2).

4) Recorrer a objetos tecnológicos como Alarmes de segurança, alarmes de cama, alarmes da porta, equipamentos de GPS com ligação ao telefone, para poder monitorizar o adulto mais velho, sem contenção ou outra barreira física (Wilson).

5) Recorrer a estratégias de apoio á memória como calendários eletrónicos, telefones com fotografias para fazer as chamadas; lembretes com alarmes para toma da medicação e, botões de alarme SOS (associados a teleassistência por exemplo). Existem outras estratégias de apoio à memória mais específicas para cada Adulto mais velho tais como colocar lembretes em locais estratégicos (como o “Não abrir a porta a estranhos” na porta) ou a entrega de uma agenda/bloco de notas com informações básicas que orientem a pessoa no dia-a-dia. Aplicamos estas últimas estratégias a alguns dos clientes da Ativo em Casa tendo em conta as suas necessidades (5).

6) Realizar alterações na casa, como forma de prevenir quedas ou outros acidentes: Alteração do WC (com as barras de proteção para a pessoa se segurar); remover os tapetes; colocar objetos / instrumentos com cores vivas para serem reconhecidos (como os interruptores, com fita colorida à volta e luminosa para acender a luz) (1). Geralmente este tipo de estratégias são aplicadas em articulação com a equipa de fisioterapia, no vídeo foram abordadas pela fisioterapeuta Gabriela Fonseca da Clínica de Fisioterapia de Lisboa.

Cada medida a adotar deve ser adaptada ao adulto mais velho e à sua condição física e cognitiva. Devem potenciar o bem-estar acima de tudo.
Se sentiu que este artigo foi importante, e quer fazer mais e melhor, marque um encontro com uma Psicóloga da Ativo em Casa.

Autor: AtivoemCasa
 
 
Bibliografia:

(1) Sandberg, L., Borel, L. & Rosenberg, L. (2021) Risls as dilemas for home care staff caring for persons with dementia. Aging & Mental Health, 25 (9 – 1701-1708)
(2) Paúl, C. & Fonseca, A. (2005). Envelhecer em Portugal. Climepsi Editores.
(3) Olson, A., Engstrom, M., Skovdahl, K. & Lampic. C. (2011). My, your and our needs for safety and security: relatives reflections on using information and comunication technology in dementia care, Caring Sciences, 10 (104-115).
(4) Ackthar, M. (2024) Positive Ageing: Living Well After Fifty. European Conference of Positive Psychology.
(5) Wilson, B. (2009). Memory Rehabilitation: Integrating Theory and Practice. Guilford Press.

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