
Autonomia Funcional: A importância de intervir nesta área
A autonomia funcional é a capacidade do individuo se auto cuidar e realizar atividades de vida diária de forma autónoma e independente. Estas atividades dividem-se em atividades básicas de vida diária (ABVD), que estão relacionadas com o autocuidado (e.g., lavar-se; vestir-se) e atividades instrumentais de vida diária (AIVD) relacionadas com a integração do individuo no meio ambiente (e.g., fazer compras; gerir dinheiro). Os défices na autonomia funcional avaliam-se através da presença ou não de dificuldades no desempenho ou mesmo pela impossibilidade em desempenhar as tarefas diárias (3).
O indivíduo com um quadro de demência ou outra patologia que afete a integridade física e funcional do cérebro tem uma maior probabilidade de dependência nas atividades básicas de vida diária (ABVD) e atividades instrumentais de vida diária (AIVD), pois, nestes casos, os sistemas necessários para as realizar de eficazmente apresentam défices (e.g., fisiológico, cognitivo) (1).
A dificuldade em participar efetivamente nas atividades de vida diária tem impacto na segurança, no bem-estar emocional e psicossocial e independência do indivíduo. A família/cuidadores também sentem o impacto destas limitações, com implicações emocionais, físicas, financeiras e sociais, o que leva à sobrecarga do cuidador (3).
Desta forma, é fundamental intervir a este nível, mas de que forma o podemos fazer? A investigação sugere que défices na perceção e cognição, como a memória, atenção e funções executivas podem afetar a capacidade de desempenhar as atividades de vida diária (3). Nestes casos, o Psicólogo da Ativo em Casa poderá utilizar um dos sistemas da memória a longo prazo, a memória implícita, onde não é necessário um esforço consciente para recordar a informação aprendida. A memória processual, que é uma forma de memória implícita, reúne a informação sobre como fazer, que permite executar tarefas de prática frequente sem pensar conscientemente sobre as mesmas e geralmente, mantêm-se intacta ou praticamente intacta nos casos em que existe défice do funcionamento cognitivo (6, 7).
Assim, considerando que a capacidade funcional do individuo traduz-se na execução de tarefas diárias de forma autónoma e que a memória processual reúne a informação sobre como executá-las, a intervenção irá utilizar este sistema de memória para definir um caminho alternativo para recordar a informação necessária para executar a tarefa, e para isso utiliza-se auxiliares de memória externos (2).
Na Ativo em Casa estamos preparados para acionar vários auxiliares de memória externos (e.g., diários, alarmes, notas em Post-it) e adaptar às necessidades e aos défices apresentados pelo cliente, posteriormente, é realizado o treino do uso desde auxiliares para que o cliente alcance autonomia nas atividades de vida diária. Por exemplo, uma queixa frequente de um cliente com défice cognitivo é esquecer-se de tomar a medicação, neste caso, utiliza-se uma listagem com a medicação que tem de tomar, o número de vezes e a quantidade que toma diariamente e porquê de tomar a medicação (promove a adesão ao tratamento), em conjunto com uma caixa de medicamentos. A listagem permite ao individuo saber como utilizar os medicamentos e caixa de medicação se as doses de medicação foram tomadas ou não. É essencial, treinar-se com o individuo o uso destes auxiliares até este conseguir utilizá-los de forma independente e, assim, realizar a tarefa de forma autónoma (7,2).
Em suma, a intervenção ao nível da autonomia funcional é central no processo reabilitativo do individuo, sendo essencial que a intervenção seja adaptada às necessidades do mesmo, como tenha em conta as suas dificuldades e, assim, promover a sua independência e melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar psicológico.
Referências Bibliográficas
- Barbosa, B. R., Almeida, J. M., Barbosa, M. R. & Barbosa, L. A. R. (2014). Avaliação da capacidade funcional dos idosos e fatores associados à incapacidade. Ciência e Saúde Coletiva, 19 (8), 3317-3325. https://doi.org/10.1590/1413-81232014198.06322013
- Crowe, J. & Gabriel, L. (2013).Errorless Learning and Spaced Retrieval Training for Clients with Alzheimer’s Dementia, Physical & Occupational Therapy In Geriatrics, 31 (3), 254-267. https://doi.org/10.3109/02703181.2013.796037
- Gauthier, S. (2006). Clinical diagnosis and management of alzheimer’s disease. Informa Healthcare.
- Santos, G. S. & Cunha, I. C. K. O. (2014). Capacidade funcional e a sua mensuração em idosos: uma revisão integrativa. Revista Família, Ciclos de vida e Saúde no contexto social, 2 (3), 219-
- Wilson, B. A. (2003). Neuropsychological rehabitation: Theory and practice. Swets & Zeitlinger Publishers.
Wilson, B. A. (2009). Memory rehabilitation: Integrating theory and pratice. The Guilford Press.
Autor: Sara Gomes, Psicóloga